Total de visualizações de página

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Poesias de George D'Almeida


Dentre as diversas poesias escritas por George D’Almeida destacamos aqui alguns trechos de sua Peça Teatral mais premiada “Julgamento Social” e algumas poesias de temas gerais e transversais.
Trecho da obra Julgamento Social, composto por monólogos que retratam a situação sócio-política-econômica  do nosso país.




 MARGINAL


Eu sou chamado aborto da sociedade, o escárnio, o lixo, o podre.
Sou tudo aquilo que é desprezível e imundo.
Sou um marginal, ladrão e assassino... Eu roubo, eu mato... Mas não pense que é porque eu quis assim.
Não! Foram os homens que me fizeram assim, porque e nunca me aceitaram nunca me compreenderam sempre me acusaram mesmo antes de fazer o que faço agora...
Os homens me fizeram alvo e me atiraram todas as coisas ruins existentes no mundo, sem dó, sem piedade... Agora eu sou acusado de fora da lei. Está dentro da lei não dar direito de trabalho a uma pessoa apenas pelo seu aspecto físico, sua cor? Está dentro da lei castrar as possibilidades de alguém, só porque esse alguém é de classe baixa? Isso está dentro da lei?
Vou te contar parte de minha história... A primeira vez que roubei, foi porque tive fome. Pedi comida, mas ninguém queria dar comida a alguém que tinha o rosto sujo pela poeira das ruas... Foi isso que me levou a roubar. Roubava para satisfazer as minhas necessidades. Era roubar ou morrer de fome. Roubei a primeira vez, a segunda e a terceira. Ganhei uma arma para garantir a minha segurança. De comida passei a roubar dinheiro... É... Assalto a mão armada!...Invadia ônibus, rendia pessoas em becos escuros, até que um dia me vi encurralado pelos chamados homens da lei... Pelos chamados homens da lei!...Aí, o negócio é matar ou morrer. E eu matei porra!...Matei a primeira pessoa que cruzou o meu caminho e agora mato todos que cruzarem. Não! Eu não queria matar! Mas eu precisei matar... Agora sou perseguido pelos crimes que cometi. Culpa minha ou dos homens que não me deram a chance de mostrar que poderia ser alguém? Eles não me deixaram mostrar que dentro de mim existia algo de bom.
Você já sabe quem sou, e então o que acha? Vamos diga! Quem é você? O que estou fazendo aqui? Eu não lhe disse que mato todos que cruzarem meu caminho?



                                         PROSTITUTA


                                      

Quem sou eu? Não percebeu ainda quem sou eu?
Pois eu te digo... Sou aquela que você chama de puta, de piranha, de galinha... Sou aquela que faz do próprio corpo seu meio de sobrevivência. Sou aquela que se prostitui para não morrer de fome, para ter dinheiro para sustentar um filho que eu não gostaria que no futuro viesse a ser o que sou agora...
Sou uma mulher como outra qualquer, a minha única diferença foi de não ter tido uma única oportunidade de ser alguém a que seus padrões sociais julgassem “HONESTA”... Sou aquela que na hora da necessidade é procurada por todos... E sou aquela a que todos esquecem na hora que eu mais preciso.
Sou aquela que você nega estender a mão num momento de aflição e sou aquela que você paga para levar para cama para satisfazer seus desejos carnais.
A aspereza de minhas palavras serve para mostrar minha revolta por ter que fazer o que eu faço. Se tivessem me dado oportunidade que me faltava, hoje seria uma mulher como você diz, direita. Estaria casada, teria uma família, uma casa onde eu seria a rainha. Mas isso não aconteceu não me deram essa oportunidade, e hoje... Hoje sou a rainha sim, mas sou rainha das ruas, das esquinas, dos motéis... Eu Sou a rainha dos bordéis... Mas, não pense você que fui eu que quis assim, não pense que nós prostitutas vendemos nossos corpos por prazer... Não! Não é por prazer. É por necessidade, por tanta necessidade que às vezes estamos na cama com alguém, mas não estamos nem pensando na relação que estamos tendo e sim no dinheiro que vamos receber. Fazemos os cálculos. Os malditos cálculos, para saber se o dinheiro vai dar para pagar as compras do supermercado, se esse maldito dinheiro ganho pela venda de nossos corpos vai ser suficiente para comprar o leite de nossos filhos... Para dar-lhes uma boa educação, para que no futuro não venham a ser esse tipo de gente que a sociedade julga avessa a moral e aos bons costumes.
A sociedade só sabe nos julgar, mas não busca compreender que fazemos isso por necessidade. Não nos consideramos mulheres sem moral, simplesmente porque a moral está em ser responsável pelos seus atos. A moral está em fazer e assumir o que se faz.
Nós somos assim, somos prostitutas e assumimos o que somos, mas gostamos de esclarecer que somos prostitutas porque você não nos deu a chance de sermos outra coisa.
Não pense que gostamos de sair por ai servindo de objeto de satisfação sexual para qualquer homem, nem que gostamos de ouvir adjetivos como piranha, puta, galinha e outros que nos são empregados.
Eu sou tudo isso que acabei de dizer... E então? O que me diz? Porque me trouxe aqui? Quer alugar meu corpo também? Que lugar é esse?


Nenhum comentário:

Postar um comentário