Dentre as diversas poesias escritas por George D’Almeida
destacamos aqui alguns trechos de sua Peça Teatral mais premiada “Julgamento
Social” e algumas poesias de temas gerais e transversais.
Trecho da obra Julgamento Social, composto por monólogos que
retratam a situação sócio-política-econômica do nosso país.
MARGINAL
Eu sou chamado aborto da sociedade, o escárnio, o lixo, o
podre.
Sou tudo aquilo que é desprezível e imundo.
Sou um marginal, ladrão e assassino... Eu roubo, eu mato...
Mas não pense que é porque eu quis assim.
Não! Foram os homens que me fizeram assim, porque e nunca me
aceitaram nunca me compreenderam sempre me acusaram mesmo antes de fazer o que
faço agora...
Os homens me fizeram alvo e me atiraram todas as coisas
ruins existentes no mundo, sem dó, sem piedade... Agora eu sou acusado de fora
da lei. Está dentro da lei não dar direito de trabalho a uma pessoa apenas pelo
seu aspecto físico, sua cor? Está dentro da lei castrar as possibilidades de
alguém, só porque esse alguém é de classe baixa? Isso está dentro da lei?
Vou te contar parte de minha história... A primeira vez que
roubei, foi porque tive fome. Pedi comida, mas ninguém queria dar comida a
alguém que tinha o rosto sujo pela poeira das ruas... Foi isso que me levou a
roubar. Roubava para satisfazer as minhas necessidades. Era roubar ou morrer de
fome. Roubei a primeira vez, a segunda e a terceira. Ganhei uma arma para
garantir a minha segurança. De comida passei a roubar dinheiro... É... Assalto
a mão armada!...Invadia ônibus, rendia pessoas em becos escuros, até que um dia
me vi encurralado pelos chamados homens da lei... Pelos chamados homens da
lei!...Aí, o negócio é matar ou morrer. E eu matei porra!...Matei a primeira
pessoa que cruzou o meu caminho e agora mato todos que cruzarem. Não! Eu não
queria matar! Mas eu precisei matar... Agora sou perseguido pelos crimes que
cometi. Culpa minha ou dos homens que não me deram a chance de mostrar que
poderia ser alguém? Eles não me deixaram mostrar que dentro de mim existia algo
de bom.
Você já sabe quem sou, e então o que acha? Vamos diga! Quem
é você? O que estou fazendo aqui? Eu não lhe disse que mato todos que cruzarem
meu caminho?
PROSTITUTA
Quem sou eu? Não percebeu ainda quem sou eu?
Pois eu te digo... Sou aquela que você chama de puta, de
piranha, de galinha... Sou aquela que faz do próprio corpo seu meio de
sobrevivência. Sou aquela que se prostitui para não morrer de fome, para ter
dinheiro para sustentar um filho que eu não gostaria que no futuro viesse a ser
o que sou agora...
Sou uma mulher como outra qualquer, a minha única diferença
foi de não ter tido uma única oportunidade de ser alguém a que seus padrões
sociais julgassem “HONESTA”... Sou aquela que na hora da necessidade é procurada
por todos... E sou aquela a que todos esquecem na hora que eu mais preciso.
Sou aquela que você nega estender a mão num momento de
aflição e sou aquela que você paga para levar para cama para satisfazer seus
desejos carnais.
A aspereza de minhas palavras serve para mostrar minha
revolta por ter que fazer o que eu faço. Se tivessem me dado oportunidade que
me faltava, hoje seria uma mulher como você diz, direita. Estaria casada, teria
uma família, uma casa onde eu seria a rainha. Mas isso não aconteceu não me
deram essa oportunidade, e hoje... Hoje sou a rainha sim, mas sou rainha das
ruas, das esquinas, dos motéis... Eu Sou a rainha dos bordéis... Mas, não pense
você que fui eu que quis assim, não pense que nós prostitutas vendemos nossos
corpos por prazer... Não! Não é por prazer. É por necessidade, por tanta
necessidade que às vezes estamos na cama com alguém, mas não estamos nem
pensando na relação que estamos tendo e sim no dinheiro que vamos receber.
Fazemos os cálculos. Os malditos cálculos, para saber se o dinheiro vai dar
para pagar as compras do supermercado, se esse maldito dinheiro ganho pela
venda de nossos corpos vai ser suficiente para comprar o leite de nossos
filhos... Para dar-lhes uma boa educação, para que no futuro não venham a ser
esse tipo de gente que a sociedade julga avessa a moral e aos bons costumes.
A sociedade só sabe nos julgar, mas não busca compreender
que fazemos isso por necessidade. Não nos consideramos mulheres sem moral,
simplesmente porque a moral está em ser responsável pelos seus atos. A moral
está em fazer e assumir o que se faz.
Nós somos assim, somos prostitutas e assumimos o que somos,
mas gostamos de esclarecer que somos prostitutas porque você não nos deu a
chance de sermos outra coisa.
Não pense que gostamos de sair por ai servindo de objeto de
satisfação sexual para qualquer homem, nem que gostamos de ouvir adjetivos como
piranha, puta, galinha e outros que nos são empregados.
Eu sou tudo isso que acabei de dizer... E então? O que me
diz? Porque me trouxe aqui? Quer alugar meu corpo também? Que lugar é esse?
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