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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Homenagem à Augusto Boal





Nascido em 1931 no bairro da Penha, o filho do padeiro primeiro tornou-se engenheiro químico e posteriormente teatrólogo, diretor, dramaturgo, ensaísta, criador do Teatro do Oprimido nos anos 1970, professor na New York University, na Harvard University e na Université de La Sorbonne-Nouvelle, cidadão do mundo. Em março de 2009 foi nomeado Embaixador Mundial do Teatro pela Unesco, uma honraria inédita para brasileiros. Boal não escondeu o orgulho de estar entre os 197 candidatos ao Prêmio Nobel da Paz 2008: “– Isso é extraordinário. É o reconhecimento da importância do Teatro do Oprimido”. A dimensão cosmopolita do teatro de Augusto Boal data dos quinze anos, entre 1971 e 1986, em que esteve no exílio político. Nesta fase, Boal desenvolveu as experiências teatrais que lhe renderiam o reconhecimento internacional de público, crítica, pesquisadores e do meio teatral. As proposituras do Teatro do Oprimido são objetos de teses de mestrados e doutorados e de cursos em diversas universidades pelo mundo. Com seu retorno definitivo ao Brasil em 1986, a convite de Darcy Ribeiro, então secretário de educação do Estado do Rio de Janeiro, Boal cria o Centro de Teatro do Oprimido – CTO, do qual foi mentor e diretor artístico por 23 anos, instituição cuja coordenação e execução das atividades e projetos são dos curingas Bárbara Santos, Claudete Felix, Cláudia Simone, Flávio Sanctum, Geo Britto, Helen Sarapeck e Olivar Bendelak, que colaboraram com Boal na reescrita do livro A Estética do Oprimido. Deixou uma obra vasta, entre eles: Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas; O teatro como arte marcial; Jogos para atores e não atores; Hamlet e o filho do padeiro – memórias imaginadas; Arco Íris do Desejo; Teatro Legislativo etc. Existem pelo menos 29 livros publicados no mundo inteiro sobre Boal ou sobre o Teatro do Oprimido, em línguas que vão desde o inglês, italiano, alemão, até o hindi indiano e o urdu do Paquistão.
Desde criança, Boal escrevia, ensaiava e montava suas próprias peças nos encontros de família. Sua formação em Engenharia Química torna-se paralela à pesquisa, à criação de textos teatrais lidos e comentados por Nelson Rodrigues. Estuda na Columbia University com John Gasner e assiste às montagens do Actor’s Studio. Em 1956,  volta ao Brasil a convite de Sábato Magaldi e Zé Renato para dirigir o Teatro de Arena de São Paulo. O grupo provoca uma revolução estética no teatro brasileiro nos anos 50 e 60. Através do Seminário de Dramaturgia, do Laboratório de Interpretação e das diversas montagens, o Teatro de Arena contribui vigorosamente para a criação de uma dramaturgia genuinamente brasileira. A partir 1964, a Ditadura Militar inicia a perseguição a todos os indivíduos e grupos de artistas com preocupações sociais e políticas. Em 1968, vem o AI-5 que aperta ainda mais o cerco. Em 1970, O Núcleo Dois do Arena inicia os primeiros experimentos do Teatro-Jornal, o embrião do Teatro do Oprimido. Em fevereiro de 1971, Augusto Boal é preso, torturado e exilado. Passando a residir na Argentina, de 1971-1976, dirige o grupo “El Machete” de Buenos Aires e monta, de sua autoria, “O Grande Acordo Internacional do Tio Patinhas”, “Torquemada” (sobre a tortura no Brasil) e “Revolução na América do Sul”, iniciando intensas viagens por toda a América Latina, onde começa a desenvolver novas técnicas do “Teatro do Oprimido”: Teatro-Imagem, Teatro-Invisível e Teatro-Fórum. Em 1976 muda-se para Lisboa, onde dirige o grupo “A Barraca”. Dois anos depois é convidado para lecionar na Université de la Sorbonne-Nouvelle. Em Paris, cria o Centre du Théatre de l´Opprimé-Augusto Boal, em 1979. Trabalha em muitos países europeus e desenvolve as técnicas introspectivas do Teatro do Oprimido: o Arco-Íris do Desejo. Antes de regressar definitivamente ao Brasil, monta no Rio de Janeiro “O Corsário do Rei” (de sua autoria, letras de Chico Buarque, música de Edu Lobo) e “Fedra” de Racine, com Fernanda Montenegro. A convite do então Secretário de Educação do Estado do Rio de Janeiro, professor Darcy Ribeiro, Boal volta ao Brasil em 1986 para dirigir a FÁBRICA DE TEATRO POPULAR. O objetivo era tornar a linguagem teatral acessível a todos, como estímulo ao diálogo e à transformação da realidade social. Ainda em 1986, junto com artistas populares, cria o Centro de Teatro do Oprimido – CTO, para difundir o Teatro do Oprimido no Brasil. No CTO-Rio, desenvolve projetos com ONGs, sindicatos, universidades e prefeituras. Em 1992, candidata-se e é eleito vereador da cidade do Rio de Janeiro pelo PT (Partido dos Trabalhadores), para fazer Teatro-Fórum e, a partir da intervenção dos espectadores, criar projetos de lei: é o Teatro Legislativo. Após transformar o espectador em ator com o Teatro do Oprimido, Boal transforma o eleitor em legislador. Utilizando o Teatro como Política, em Sessões Solenes Simbólicas, encaminha à Câmara de Vereadores 33 projetos de lei, dos quais 14 tornam-se leis municipais, entre 1993 a 1996. A partir de 1996, fora da Câmara dos Vereadores, Boal e o CTO seguem na consolidação do Teatro Legislativo Em 1998, conseguem o apoio da Fundação Ford, para a criação de grupos comunitários de Teatro do Oprimido. Boal também realizou diversas Sessões Solenes Simbólicas, de Teatro Legislativo, no exterior: no “Great London Council” – Londres, com a participação de escritores como: Lisa Jardine, Tarik Ali, Paul Heller e advogados dos Tribunais de Londres; em Bradford, na Câmara Legislativa da cidade, sobre questões relativas aos portadores da Síndrome de Down; na Sala da Comissão de Justiça do Rathaus (Prefeitura) de Munique, com apoio da Sociedade Paulo Freire. Em 1999, transforma a ópera “Carmem” de Bizet em SAMBÓPERA, uma experiência inovadora que traduziu as músicas originais para ritmos genuinamente brasileiros. Carmem ficou em temporada no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. Em julho de 2000, estreou em Paris. Em 2001, “La Traviata” é montada também como SAMBÓPERA e faz circuito no Rio de Janeiro. Sua mais recente pesquisa é a Estética do Oprimido, programa de formação estética que integra experiências com o SOM, PALAVRA, IMAGEM e ÉTICA. A Estética do Oprimido tem por fundamento a crença de que somos todos melhores do que pensamos ser, e capazes de fazer mais do que aquilo que efetivamente realizamos: todo ser humano é expansivo. Augusto Boal é autor de diversas obras literárias lançadas nos mais diversos idiomas, além de colecionar um arsenal extraordinário de prêmios e honrarias. A principal criação de Augusto Boal, o Teatro do Oprimido, é hoje uma realidade mundial, sendo a metodologia teatral mais conhecida e praticada nos cinco continentes. Augusto Boal faleceu no dia 02 de maio de 2009, no Rio de Janeiro.

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