Nascido em 1931 no bairro da Penha, o filho do padeiro
primeiro tornou-se engenheiro químico e posteriormente teatrólogo, diretor,
dramaturgo, ensaísta, criador do Teatro do Oprimido nos anos 1970, professor na
New York University, na Harvard University e na Université de La
Sorbonne-Nouvelle, cidadão do mundo. Em março de 2009 foi nomeado Embaixador
Mundial do Teatro pela Unesco, uma honraria inédita para brasileiros. Boal não
escondeu o orgulho de estar entre os 197 candidatos ao Prêmio Nobel da Paz
2008: “– Isso é extraordinário. É o reconhecimento da importância do Teatro do
Oprimido”. A dimensão cosmopolita do teatro de Augusto Boal data dos quinze
anos, entre 1971 e 1986, em que esteve no exílio político. Nesta fase, Boal
desenvolveu as experiências teatrais que lhe renderiam o reconhecimento
internacional de público, crítica, pesquisadores e do meio teatral. As
proposituras do Teatro do Oprimido são objetos de teses de mestrados e
doutorados e de cursos em diversas universidades pelo mundo. Com seu retorno
definitivo ao Brasil em 1986, a convite de Darcy Ribeiro, então secretário de
educação do Estado do Rio de Janeiro, Boal cria o Centro de Teatro do Oprimido
– CTO, do qual foi mentor e diretor artístico por 23 anos, instituição cuja
coordenação e execução das atividades e projetos são dos curingas Bárbara
Santos, Claudete Felix, Cláudia Simone, Flávio Sanctum, Geo Britto, Helen
Sarapeck e Olivar Bendelak, que colaboraram com Boal na reescrita do livro A
Estética do Oprimido. Deixou uma obra vasta, entre eles: Teatro do Oprimido e
outras poéticas políticas; O teatro como arte marcial; Jogos para atores e não
atores; Hamlet e o filho do padeiro – memórias imaginadas; Arco Íris do Desejo;
Teatro Legislativo etc. Existem pelo menos 29 livros publicados no mundo
inteiro sobre Boal ou sobre o Teatro do Oprimido, em línguas que vão desde o
inglês, italiano, alemão, até o hindi indiano e o urdu do Paquistão.
Desde criança, Boal escrevia, ensaiava e montava suas
próprias peças nos encontros de família. Sua formação em Engenharia Química
torna-se paralela à pesquisa, à criação de textos teatrais lidos e comentados
por Nelson Rodrigues. Estuda na Columbia University com John Gasner e assiste
às montagens do Actor’s Studio. Em 1956,
volta ao Brasil a convite de Sábato Magaldi e Zé Renato para dirigir o Teatro
de Arena de São Paulo. O grupo provoca uma revolução estética no teatro
brasileiro nos anos 50 e 60. Através do Seminário de Dramaturgia, do
Laboratório de Interpretação e das diversas montagens, o Teatro de Arena
contribui vigorosamente para a criação de uma dramaturgia genuinamente brasileira.
A partir 1964, a Ditadura Militar inicia a perseguição a todos os indivíduos e
grupos de artistas com preocupações sociais e políticas. Em 1968, vem o AI-5
que aperta ainda mais o cerco. Em 1970, O Núcleo Dois do Arena inicia os
primeiros experimentos do Teatro-Jornal, o embrião do Teatro do Oprimido. Em
fevereiro de 1971, Augusto Boal é preso, torturado e exilado. Passando a
residir na Argentina, de 1971-1976, dirige o grupo “El Machete” de Buenos Aires
e monta, de sua autoria, “O Grande Acordo Internacional do Tio Patinhas”,
“Torquemada” (sobre a tortura no Brasil) e “Revolução na América do Sul”,
iniciando intensas viagens por toda a América Latina, onde começa a desenvolver
novas técnicas do “Teatro do Oprimido”: Teatro-Imagem, Teatro-Invisível e
Teatro-Fórum. Em 1976 muda-se para Lisboa, onde dirige o grupo “A Barraca”.
Dois anos depois é convidado para lecionar na Université de la
Sorbonne-Nouvelle. Em Paris, cria o Centre du Théatre de l´Opprimé-Augusto
Boal, em 1979. Trabalha em muitos países europeus e desenvolve as técnicas
introspectivas do Teatro do Oprimido: o Arco-Íris do Desejo. Antes de regressar
definitivamente ao Brasil, monta no Rio de Janeiro “O Corsário do Rei” (de sua
autoria, letras de Chico Buarque, música de Edu Lobo) e “Fedra” de Racine, com
Fernanda Montenegro. A convite do então Secretário de Educação do Estado do Rio
de Janeiro, professor Darcy Ribeiro, Boal volta ao Brasil em 1986 para dirigir
a FÁBRICA DE TEATRO POPULAR. O objetivo era tornar a linguagem teatral acessível
a todos, como estímulo ao diálogo e à transformação da realidade social. Ainda
em 1986, junto com artistas populares, cria o Centro de Teatro do Oprimido –
CTO, para difundir o Teatro do Oprimido no Brasil. No CTO-Rio, desenvolve
projetos com ONGs, sindicatos, universidades e prefeituras. Em 1992,
candidata-se e é eleito vereador da cidade do Rio de Janeiro pelo PT (Partido
dos Trabalhadores), para fazer Teatro-Fórum e, a partir da intervenção dos
espectadores, criar projetos de lei: é o Teatro Legislativo. Após transformar o
espectador em ator com o Teatro do Oprimido, Boal transforma o eleitor em
legislador. Utilizando o Teatro como Política, em Sessões Solenes Simbólicas,
encaminha à Câmara de Vereadores 33 projetos de lei, dos quais 14 tornam-se
leis municipais, entre 1993 a 1996. A partir de 1996, fora da Câmara dos
Vereadores, Boal e o CTO seguem na consolidação do Teatro Legislativo Em 1998,
conseguem o apoio da Fundação Ford, para a criação de grupos comunitários de
Teatro do Oprimido. Boal também realizou diversas Sessões Solenes Simbólicas,
de Teatro Legislativo, no exterior: no “Great London Council” – Londres, com a
participação de escritores como: Lisa Jardine, Tarik Ali, Paul Heller e
advogados dos Tribunais de Londres; em Bradford, na Câmara Legislativa da
cidade, sobre questões relativas aos portadores da Síndrome de Down; na Sala da
Comissão de Justiça do Rathaus (Prefeitura) de Munique, com apoio da Sociedade
Paulo Freire. Em 1999, transforma a ópera “Carmem” de Bizet em SAMBÓPERA, uma
experiência inovadora que traduziu as músicas originais para ritmos
genuinamente brasileiros. Carmem ficou em temporada no Centro Cultural Banco do
Brasil, no Rio de Janeiro. Em julho de 2000, estreou em Paris. Em 2001, “La
Traviata” é montada também como SAMBÓPERA e faz circuito no Rio de Janeiro. Sua
mais recente pesquisa é a Estética do Oprimido, programa de formação estética
que integra experiências com o SOM, PALAVRA, IMAGEM e ÉTICA. A Estética do
Oprimido tem por fundamento a crença de que somos todos melhores do que
pensamos ser, e capazes de fazer mais do que aquilo que efetivamente
realizamos: todo ser humano é expansivo. Augusto Boal é autor de diversas obras
literárias lançadas nos mais diversos idiomas, além de colecionar um arsenal
extraordinário de prêmios e honrarias. A principal criação de Augusto Boal, o
Teatro do Oprimido, é hoje uma realidade mundial, sendo a metodologia teatral
mais conhecida e praticada nos cinco continentes. Augusto Boal faleceu no dia
02 de maio de 2009, no Rio de Janeiro.
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