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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Amor e sacrifício





Não é a primeira vez que ela vai para o litoral passar o feriado prolongado, e as coisa não acontecem como o desejado. Da ultima vez, como da anterior, o tempo fechou e muita água desceu do céu. Mara é uma menina muito doce, mas de um temperamento estranho. Uma mistura de delicadeza e grossura. Fala o que sente, não manda recado. A conheci num site de relacionamento e aos poucos fomos nos envolvendo de tal forma, que quando vimos, estávamos totalmente apaixonados. Mas nosso amor era um amor diferenciado, na qual me permito não revelar. Mas eu a amava, e sentia que era recíproco esse amor, mas as dificuldades em nos ver vêm aumentando a cada dia e isso está me preocupando.
Já se fazem mais de 15 dias, desde o último encontro, e a saudade ficou maior ainda, pois assim que ela retornou do litoral, viajou para o interior com a família, e quando isso acontece, fica mais difícil ainda a comunicação. Naquele dia chovia muito quando meu celular tocou. Era ela. Fiquei feliz em ouvir a sua voz, como sempre fico quando ela me liga. Papeávamos quando me contou da tal viagem que teria que fazer na semana seguinte. Foi como um banho de água fria. A gente não se via há tanto tempo. Mas fazer o que? Fiquei realmente triste. Não aborrecido como de algumas vezes. Mas triste. Eu não conseguia esconder o meu descontentamento, mas fazia parte de nossa relação.
Mara tinha uma vida bem agitada.  Trabalhava em uma multinacional. Seu tempo, como o meu, era deveras corrido, mas sempre encontrávamos uma forma de nos vermos, nem que fosse apenas por algumas pequenas horas. O trânsito caótico do Rio de Janeiro muitas vezes diminuía mais o nosso tempo de encontro. Eu moro no interior e ela na capital. Ela tinha um jeito especial de me acalmar. Sua voz doce e terna, Mara, sempre encontrava uma forma de fazer com que aquelas pequenas horas, se transformassem em dias. Mas foi no retorno de sua viagem, que notei que algo havia acontecido. Como ela não me ligou naquele fim de semana, achei muito estranho, pois ela nunca deixa de fazê-lo.   E o envio de torpedos também havia sido rudemente encolhido. Era uma segunda-feira à noite, Imaginei que naquele momento ela já deveria estar em casa, então arrisquei em ligar: “Alô”!
- Nossa!!! Transmissão de pensamentos? Já ia te ligar. Cheguei a pouco de viagem, a estrada estava terrível!
Fui um tanto seco. Estava deveras chateado com a falta de noticias. Muitas coisas passaram pela minha cabeça. Dúvidas, incertezas, insegurança... Eu não conseguia disfarçar o misto de saudades e ciúmes. Eu sabia que ela me amava. Não tinha dúvidas em relação ao seu amor. Acho que eu cobrava mais de mim e passava isso pra ela. Ela percebeu isso. Conhecia-me muito bem. Sabia conhecer no tom de minha voz que algo não estava bem, mas ela não queria discutir isso por telefone.
- Paulo, estou em Cascadura, indo para a Tijuca. Podemos nos encontrar no lugar de sempre?


O lugar de sempre que Mara se referia, era um barzinho que fica na Saens Peña.  Eles serviam um delicioso camarão na brasa e tínhamos o costume de nos encontrar sempre naquele mesmo local. Sentíamos-nos mais seguros. Mara não era de beber, mas gostava de um vinho. E era naquele local que nossa privacidade era preservada. Eu adorava estar ali com ela, passávamos horas de contentamento. Falávamos sobre diversos assuntos. Mara não era apenas uma amante, no sentido da palavra, era também uma amiga especial. Sempre com palavras certas e sábias, ela conseguia ver coisas que eu não enxergava. Coisas simples para ela e complicadas às vezes para mim. Gostava de vê-la chegando. Ao longe já a admirava. Seu andar único, seus cabelos ao vento. Seus lábios soltavam um sorriso logo que se aproximava de mim. Essa era a minha Mara.
- Sim, podemos. As 18hs estarei lá. Quem chegar primeiro espera o outro.
- Tá, meu amor! Assim que chegar em casa, vou tomar um banho, desfazer as malas e te encontro lá.
Minha cabeça estava a mil. Muitos pensamentos turbulentos... muitas perguntas sem respostas. Estava confuso. Por mais que ela me dissesse milhões de vezes que me amava, eu sentia algo estranho no ar, mas eu não sabia o que era.  A falta de notícias naquele fim de semana me fizera pensar coisas nebulosas. Mas eu precisa ter muito tato. Não queria magoá-la, mas isso foi inevitável. A levei as lágrimas. Talvez isso tenha sido ainda reflexo de nosso último encontro. Por pouco, muito pouco não rompemos nossa relação.
Desde que conheci Mara, minha vida sentimental tem sido outra. Minha postura em relação às pessoas ainda é a mesma. Sei que isso cria certo desconforto entre nós. Mais sou assim. Ainda eram 14hs. Tinha muito tempo até o nosso encontro. Eu precisava dar um pulo no centro, tinha uns assuntos relevantes a tratar. Peguei o metrô. Desci na Uruguaiana, me dirigi a Rio Branco e atravessei, Foi quando de repente ouvi uma freada brusca e uma buzina que quase estourou meus ouvidos.
- Tá louco? Que morrer? Olha por onde anda.
Estava tão distraído em meus pensamentos que não reparei que o sinal de transito estava fechado para mim, e avancei. Por um segundo não fui atropelado por aquele carro. Eu não conseguia me desligar da conversa que teria com Mara naquela tarde-noite. Nossa relação estava em jogo. Eu a amava muito. Como amava.
A cidade estava movimentada naquela tarde. Parecia que eu estava na Índia, onde as pessoas parecem formigas. Milhões e milhões de pessoas se esbarrando nas ruas. Eu precisava ir a Biblioteca nacional, estava levando minhas obras para serem registradas. Meu pensamento era publicar no menor tempo possível o meu livro de poesias. Nos últimos meses estava totalmente absorvido pela escrita. Simultaneamente, estava escrevendo, um livro de poesias, uma autobiografia e alguns contos. Minha cabeça estava cheia de letras, acentos, pontuações, etc. Não me demorei muito na Biblioteca Nacional, sempre preocupado com a hora de nosso encontro, resolvi dar um pulo no Amarelinho, um restaurante famoso que fica na Cinelândia, ao lado da Câmara Municipal.  Após uma tempestade, o sol, resolveu aparecer e o calor estava bravo. Nada que um bom chopp gelado, e o chopp do Amarelinho era simplesmente maravilhoso. Não queria beber muito, até porque, iria beber um vinho com a Mara e não queria ficar tonto.

Cheguei à Cinelândia por volta das 15h30min. Procurei uma mesa onde pudesse ter uma vista privilegiada da praça. Chamei o garçom e lhe pedi um chopp bem gelado e com colarinho, o que de imediato fui atendido. Enquanto saboreava o chopp, comecei a pensar como falaria com a Mara, como diria a ela que estava me sentindo mal nessa relação. Não com ela, mas o que estava acontecendo com a gente. Mara era uma mulher direta. Sabia que nossa relação não era uma coisa comum, como a de outros casais. Repito, eu aceitei isso desde o inicio, mas achei que seria uma relação sem muitas expectativas. Sairíamos um, duas, ou até mesmo umas três vezes e nada mais. Mas as coisas foram tomando proporções inimagináveis. Fui me apaixonado de forma jamais vista, jamais sentida. Eu não queria magoá-la de novo. Não me permitiria vê-la chorando novamente como da ultima vez.
Jaz se faz mais de um mês que não a toco, que não sinto seu cheiro, seu sabor... o sabor de seus beijos...beijos apaixonantes, que me levam ao delírio, me entorpecem e me fazem esquecer do mundo. Quando estou nos braços de Mara, o mundo não tem sentido para mim. Vivo aquele momento como se fosse o meu último. Sinto o veludo de seu corpo, ali, deitada ao meu lado, totalmente despida de tudo, até mesmo de seus sonhos, pois ali, naquele momento, vivemos todos os nossos sonhos. Sua voz suave, seu jeito coloquial de se colocar diante mim, me torna o homem mais feliz do mundo. Sei que sou amado, talvez o mais amado de todos que já fizeram parte de sua história.
Enquanto deliciava o chopp geladinho, observei um casal sentado a minha frente. Um belo casal, por sinal. Ele aparentando ter um 42 anos e ela uns 30. Livres, libertos de preconceitos de uma sociedade machista e preconceituosa. Trocando juras de amor. Não dava para ouvir o que falavam, mas seus olhares eram eternos, o mesmo olhar q eu e Mara trocamos quando estamos juntos, em nosso momento de amor. O sorriso que aquela jovem dava ao ouvir as palavras de seu amante era de grandiosidade formosura. Foi ali, com aquele sorriso, que eu decidi não falar para Mara de meus ciúmes, de meus temores de perdê-la, de minha insegurança. Deixaria o barco andar, navegar por rios e lagos sem destino, apenas sentar-me-ia e com ela viveríamos apenas uma história de amor.
 Meus pensamentos já estavam em tamanhos devaneios, quando meu celular toca. Olho o numero e vejo que era Mara. Atendo: “Alô, oi meu amor!”.
- Oi minha vida!
Ela sempre com o seu jeito carinhoso, mesmo quando era para me dar uma noticia não muito agradável.
-Amor. Não poderemos nos ver hoje. Tenho que ir para a casa de minha tia e não posso deixar de ir. Você entende né?
Eu sabia o que ela queria dizer.
- Poxa, mais uma vez? Não tem jeito mesmo de você não ir?
- Você sabe que não meu amor. Também fiquei muito chateada, mas nada poderei fazer. Procure entender.
Esse procure entender me matava. Eu sempre tinha que entender tudo.
Fiquei realmente muito chateado naquele dia. Bebi todas. Já faziam mais de 15 dias que a gente não se via. Não se tocava. Sempre tinha alguma coisa entre nós. Cheguei a duvidar de seu amor.
Fui embora para casa, e, somente eu, sabia como estava me sentindo. Muitas coisas passavam pela minha cabeça.
No dia seguinte, Mara tinha uma prova de um concurso público. Bem cedo, me mandou uma mensagem por celular.  Respondi desejando sorte e pedi para que ela me ligasse ao termino da prova. Estava torcendo por ela e gostaria de saber como ela tinha ido.
Já eram mais de 16 horas quando recebi uma mensagem. Mara me dizia que estava num churrasco em casa de amigos. Fiquei pau da vida. Achei uma tremenda falta de amor. Eu fiquei o dia todo preso em casa, torcendo por ela, torcendo para que fizesse uma boa prova, que conseguisse almejar os seus ideais, os seus sonhos. Ela simplesmente me ignora e vai para um churrasco. Ela bem que poderia dar um jeito e me avisar. Caraca!!!
Eu havia prometido de não mais ir a uma determinada cidade. Sei que ela fica chateada quando vou lá. Mas poxa, eu deixo de me diverti enquanto ela vai para um churrasco. Eu pensando que ela estava ainda fazendo a tal prova, e ela no bem bom num churrasco, nem uma mensagem me avisando q tinha acabado a prova.
O meu dia foi horrível depois disso. Tomei um banho, me arrumei e sai. Sem destino. Deu-me vontade de ir para a tal cidade que ela não gostava quando eu ia. Mas não seria justo. Não queria me vingar. Estava furioso, mas não ia fazer isso, nem com ela nem comigo. Sei que me aborreceria ou... melhor nem pensar.
Os dias após aquele, foram longos e duros. Ela estava para viajar. Suas férias estavam se aproximando. Seriam longos dias sem a sua presença, e, o contato via celular e mensagens, seriam também racionadas ou nenhum, até o seu retorno. Não tinha vontade de ligar pra ela nem de enviar mensagens. Vou aguardar os acontecimentos e decidir os rumos que esse relacionamento vai me levar. Palavras bonitas, mensagens de amor, tudo isso é muito bonito. Mas amor exige sacrifício... amor exige uma presença maior...amor é se dar, se entregar, correr riscos.
Seria uma utopia esse relacionamento?


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