Não é a primeira vez que ela vai
para o litoral passar o feriado prolongado, e as coisa não acontecem como o
desejado. Da ultima vez, como da anterior, o tempo fechou e muita água desceu
do céu. Mara é uma menina muito doce, mas de um temperamento estranho. Uma
mistura de delicadeza e grossura. Fala o que sente, não manda recado. A conheci
num site de relacionamento e aos poucos fomos nos envolvendo de tal forma, que
quando vimos, estávamos totalmente apaixonados. Mas nosso amor era um amor
diferenciado, na qual me permito não revelar. Mas eu a amava, e sentia que era
recíproco esse amor, mas as dificuldades em nos ver vêm aumentando a cada dia e
isso está me preocupando.
Já se fazem mais de 15 dias,
desde o último encontro, e a saudade ficou maior ainda, pois assim que ela
retornou do litoral, viajou para o interior com a família, e quando isso
acontece, fica mais difícil ainda a comunicação. Naquele dia chovia muito
quando meu celular tocou. Era ela. Fiquei feliz em ouvir a sua voz, como sempre
fico quando ela me liga. Papeávamos quando me contou da tal viagem que teria
que fazer na semana seguinte. Foi como um banho de água fria. A gente não se
via há tanto tempo. Mas fazer o que? Fiquei realmente triste. Não aborrecido
como de algumas vezes. Mas triste. Eu não conseguia esconder o meu
descontentamento, mas fazia parte de nossa relação.
Mara tinha uma vida bem
agitada. Trabalhava em uma
multinacional. Seu tempo, como o meu, era deveras corrido, mas sempre
encontrávamos uma forma de nos vermos, nem que fosse apenas por algumas
pequenas horas. O trânsito caótico do Rio de Janeiro muitas vezes diminuía mais
o nosso tempo de encontro. Eu moro no interior e ela na capital. Ela tinha um
jeito especial de me acalmar. Sua voz doce e terna, Mara, sempre encontrava uma
forma de fazer com que aquelas pequenas horas, se transformassem em dias. Mas
foi no retorno de sua viagem, que notei que algo havia acontecido. Como ela não
me ligou naquele fim de semana, achei muito estranho, pois ela nunca deixa de
fazê-lo. E o envio de torpedos também
havia sido rudemente encolhido. Era uma segunda-feira à noite, Imaginei que
naquele momento ela já deveria estar em casa, então arrisquei em ligar: “Alô”!
- Nossa!!! Transmissão de
pensamentos? Já ia te ligar. Cheguei a pouco de viagem, a estrada estava
terrível!
Fui um tanto seco. Estava deveras
chateado com a falta de noticias. Muitas coisas passaram pela minha cabeça.
Dúvidas, incertezas, insegurança... Eu não conseguia disfarçar o misto de
saudades e ciúmes. Eu sabia que ela me amava. Não tinha dúvidas em relação ao
seu amor. Acho que eu cobrava mais de mim e passava isso pra ela. Ela percebeu
isso. Conhecia-me muito bem. Sabia conhecer no tom de minha voz que algo não
estava bem, mas ela não queria discutir isso por telefone.
- Paulo, estou em Cascadura, indo
para a Tijuca. Podemos nos encontrar no lugar de sempre?
O lugar de sempre que Mara se
referia, era um barzinho que fica na Saens Peña. Eles serviam um delicioso camarão na brasa e
tínhamos o costume de nos encontrar sempre naquele mesmo local. Sentíamos-nos
mais seguros. Mara não era de beber, mas gostava de um vinho. E era naquele
local que nossa privacidade era preservada. Eu adorava estar ali com ela,
passávamos horas de contentamento. Falávamos sobre diversos assuntos. Mara não
era apenas uma amante, no sentido da palavra, era também uma amiga especial. Sempre
com palavras certas e sábias, ela conseguia ver coisas que eu não enxergava.
Coisas simples para ela e complicadas às vezes para mim. Gostava de vê-la
chegando. Ao longe já a admirava. Seu andar único, seus cabelos ao vento. Seus
lábios soltavam um sorriso logo que se aproximava de mim. Essa era a minha
Mara.
- Sim, podemos. As 18hs estarei
lá. Quem chegar primeiro espera o outro.
- Tá, meu amor! Assim que chegar
em casa, vou tomar um banho, desfazer as malas e te encontro lá.
Minha cabeça estava a mil. Muitos
pensamentos turbulentos... muitas perguntas sem respostas. Estava confuso. Por
mais que ela me dissesse milhões de vezes que me amava, eu sentia algo estranho
no ar, mas eu não sabia o que era. A
falta de notícias naquele fim de semana me fizera pensar coisas nebulosas. Mas
eu precisa ter muito tato. Não queria magoá-la, mas isso foi inevitável. A
levei as lágrimas. Talvez isso tenha sido ainda reflexo de nosso último
encontro. Por pouco, muito pouco não rompemos nossa relação.
Desde que conheci Mara, minha
vida sentimental tem sido outra. Minha postura em relação às pessoas ainda é a
mesma. Sei que isso cria certo desconforto entre nós. Mais sou assim. Ainda
eram 14hs. Tinha muito tempo até o nosso encontro. Eu precisava dar um pulo no
centro, tinha uns assuntos relevantes a tratar. Peguei o metrô. Desci na
Uruguaiana, me dirigi a Rio Branco e atravessei, Foi quando de repente ouvi uma
freada brusca e uma buzina que quase estourou meus ouvidos.
- Tá louco? Que morrer? Olha por
onde anda.
Estava tão distraído em meus
pensamentos que não reparei que o sinal de transito estava fechado para mim, e
avancei. Por um segundo não fui atropelado por aquele carro. Eu não conseguia
me desligar da conversa que teria com Mara naquela tarde-noite. Nossa relação
estava em jogo. Eu a amava muito. Como amava.
A cidade estava movimentada
naquela tarde. Parecia que eu estava na Índia, onde as pessoas parecem
formigas. Milhões e milhões de pessoas se esbarrando nas ruas. Eu precisava ir
a Biblioteca nacional, estava levando minhas obras para serem registradas. Meu
pensamento era publicar no menor tempo possível o meu livro de poesias. Nos
últimos meses estava totalmente absorvido pela escrita. Simultaneamente, estava
escrevendo, um livro de poesias, uma autobiografia e alguns contos. Minha
cabeça estava cheia de letras, acentos, pontuações, etc. Não me demorei muito
na Biblioteca Nacional, sempre preocupado com a hora de nosso encontro, resolvi
dar um pulo no Amarelinho, um restaurante famoso que fica na Cinelândia, ao lado
da Câmara Municipal. Após uma
tempestade, o sol, resolveu aparecer e o calor estava bravo. Nada que um bom
chopp gelado, e o chopp do Amarelinho era simplesmente maravilhoso. Não queria
beber muito, até porque, iria beber um vinho com a Mara e não queria ficar
tonto.
Cheguei à Cinelândia por volta
das 15h30min. Procurei uma mesa onde pudesse ter uma vista privilegiada da
praça. Chamei o garçom e lhe pedi um chopp bem gelado e com colarinho, o que de
imediato fui atendido. Enquanto saboreava o chopp, comecei a pensar como
falaria com a Mara, como diria a ela que estava me sentindo mal nessa relação.
Não com ela, mas o que estava acontecendo com a gente. Mara era uma mulher
direta. Sabia que nossa relação não era uma coisa comum, como a de outros
casais. Repito, eu aceitei isso desde o inicio, mas achei que seria uma relação
sem muitas expectativas. Sairíamos um, duas, ou até mesmo umas três vezes e
nada mais. Mas as coisas foram tomando proporções inimagináveis. Fui me
apaixonado de forma jamais vista, jamais sentida. Eu não queria magoá-la de
novo. Não me permitiria vê-la chorando novamente como da ultima vez.
Jaz se faz mais de um mês que não
a toco, que não sinto seu cheiro, seu sabor... o sabor de seus beijos...beijos
apaixonantes, que me levam ao delírio, me entorpecem e me fazem esquecer do
mundo. Quando estou nos braços de Mara, o mundo não tem sentido para mim. Vivo
aquele momento como se fosse o meu último. Sinto o veludo de seu corpo, ali,
deitada ao meu lado, totalmente despida de tudo, até mesmo de seus sonhos, pois
ali, naquele momento, vivemos todos os nossos sonhos. Sua voz suave, seu jeito
coloquial de se colocar diante mim, me torna o homem mais feliz do mundo. Sei
que sou amado, talvez o mais amado de todos que já fizeram parte de sua história.
Enquanto deliciava o chopp
geladinho, observei um casal sentado a minha frente. Um belo casal, por sinal.
Ele aparentando ter um 42 anos e ela uns 30. Livres, libertos de preconceitos
de uma sociedade machista e preconceituosa. Trocando juras de amor. Não dava
para ouvir o que falavam, mas seus olhares eram eternos, o mesmo olhar q eu e
Mara trocamos quando estamos juntos, em nosso momento de amor. O sorriso que
aquela jovem dava ao ouvir as palavras de seu amante era de grandiosidade
formosura. Foi ali, com aquele sorriso, que eu decidi não falar para Mara de
meus ciúmes, de meus temores de perdê-la, de minha insegurança. Deixaria o
barco andar, navegar por rios e lagos sem destino, apenas sentar-me-ia e com
ela viveríamos apenas uma história de amor.
- Oi minha vida!
Ela sempre com o seu jeito
carinhoso, mesmo quando era para me dar uma noticia não muito agradável.
-Amor. Não poderemos nos ver
hoje. Tenho que ir para a casa de minha tia e não posso deixar de ir. Você
entende né?
Eu sabia o que ela queria dizer.
- Poxa, mais uma vez? Não tem
jeito mesmo de você não ir?
- Você sabe que não meu amor.
Também fiquei muito chateada, mas nada poderei fazer. Procure entender.
Esse procure entender me matava.
Eu sempre tinha que entender tudo.
Fiquei realmente muito chateado
naquele dia. Bebi todas. Já faziam mais de 15 dias que a gente não se via. Não
se tocava. Sempre tinha alguma coisa entre nós. Cheguei a duvidar de seu amor.
Fui embora para casa, e, somente
eu, sabia como estava me sentindo. Muitas coisas passavam pela minha cabeça.
No dia seguinte, Mara tinha uma
prova de um concurso público. Bem cedo, me mandou uma mensagem por
celular. Respondi desejando sorte e pedi
para que ela me ligasse ao termino da prova. Estava torcendo por ela e gostaria
de saber como ela tinha ido.
Já eram mais de 16 horas quando
recebi uma mensagem. Mara me dizia que estava num churrasco em casa de amigos.
Fiquei pau da vida. Achei uma tremenda falta de amor. Eu fiquei o dia todo
preso em casa, torcendo por ela, torcendo para que fizesse uma boa prova, que
conseguisse almejar os seus ideais, os seus sonhos. Ela simplesmente me ignora
e vai para um churrasco. Ela bem que poderia dar um jeito e me avisar.
Caraca!!!
Eu havia prometido de não mais ir
a uma determinada cidade. Sei que ela fica chateada quando vou lá. Mas poxa, eu
deixo de me diverti enquanto ela vai para um churrasco. Eu pensando que ela
estava ainda fazendo a tal prova, e ela no bem bom num churrasco, nem uma
mensagem me avisando q tinha acabado a prova.
O meu dia foi horrível depois
disso. Tomei um banho, me arrumei e sai. Sem destino. Deu-me vontade de ir para
a tal cidade que ela não gostava quando eu ia. Mas não seria justo. Não queria
me vingar. Estava furioso, mas não ia fazer isso, nem com ela nem comigo. Sei
que me aborreceria ou... melhor nem pensar.
Os dias após aquele, foram longos
e duros. Ela estava para viajar. Suas férias estavam se aproximando. Seriam
longos dias sem a sua presença, e, o contato via celular e mensagens, seriam
também racionadas ou nenhum, até o seu retorno. Não tinha vontade de ligar pra
ela nem de enviar mensagens. Vou aguardar os acontecimentos e decidir os rumos
que esse relacionamento vai me levar. Palavras bonitas, mensagens de amor, tudo
isso é muito bonito. Mas amor exige sacrifício... amor exige uma presença
maior...amor é se dar, se entregar, correr riscos.
Seria uma utopia esse relacionamento?
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