Contar a mímica feita por outro
Um ator vai ao palco e conta, em mímica, uma pequena
história. Um segundo ator observa enquanto que os outros três não podem ver. O
segundo ator vai ao palco e reproduz o que viu, enquanto os outros dois não
vêm: só o terceiro. Vai o terceiro e o quarto o observa, mas não o quinto. Vai
o quaro e o quinto o observa. Finalmente vai o quinto ator e reproduz o que viu
fazer ao quarto.
Compara-se depois o que fez o primeiro: em geral, o quinto
já não tem nada mais a ver com o primeiro. Depois, pede-se a cada um que diga
em voz alta o que foi que pretendeu mostrar com a sua mímica. Este exercício é
divertidíssimo.
Variante: cada ator que observa tenta corrigir aquilo que
viu. Por exemplo: imagina que o ator anterior estava tentando mostrar tal
coisa, porém que o fazia mal - dispõe-se então a fazer a mesma coisa, porém bem
- eliminando os detalhes inúteis e acentuando os mais importantes.
Sugestão teatro evangélico
O Método
Com a chegada do Teatro de Arte de Moscou sob a supervisão
direta de Konstantin Stanislavsky, este novo método de interpretação
espalhou-se pelo mundo. Uma boa parte dele permaneceu igual a como ele
ensinava. Outra foi abandonada, modificada ou ampliada para suprir necessidades
de uma sociedade em mudança. Mas, basicamente seu sistema tem sobrevivido
intacto a quase todos os abusos feitos. Até sua ênfase na realidade, na beleza
da natureza, na dignidade da vida foram criticadas como vulgaridades
simplesmente porque a verdade foi levada ao palco. Houve cultos professores
universitários de teatro que rejeitaram seus ensinamentos: instrutores,
professores de teatro e outros que deturparam e deformaram seus significados
para satisfazer suas próprias vontades. Atores também têm rejeitado
Stanislavsky ao aderir a uma forma exagerada de interpretação. Mas a verdade é
uma adversária terrível porque a natureza está do seu lado.
Muitos atores negam que suas representações sejam exageradas
porque tentam evitar seu método. No entanto, não percebem que o esforço para
ser eficiente ou agradar facilmente, leva a um comportamento errado no palco.
Isto é só um outro exemplo da necessidade de autoconsciência.
Com esta consciência, o ator percebe que o exagero e a
grandiosidade são, na maioria dos casos, erros.
Como nós aprendemos com a experiência (e através do processo
de eliminação), o próximo problema que temos pela frente é exatamente o oposto,
não deixando de ser outro tipo de exagero: representar de forma atenuada,
minimizando a realidade.
Os atores do Método também se tornam vítimas deste defeito
durante treinamento. Exagerar qualquer coisa no palco tornou-se um pecado tão
sério para os seguidores do Método que muitas vezes somos obrigados a "nos
contentar em ser natural" ao invés de dar vazão às expressões, mesmo que
elas estejam totalmente em harmonia com a realidade da situação. Isto é tão
errado quanto exagerar.
Portanto, uma fala lida com naturalidade e simplicidade,
está mais de acordo com a realidade do que o risco de forçar uma emoção que
pode soar falso. Os méritos da verdade devem ser nossa meta. Nem mais, nem
menos.
A forma de representar que acabamos de discutir é chamada
atuação exagerada, mas este termo é contraditório em virtude da definição da
representação para o ator moderno. Representar é alcançar a realidade no palco,
exagerar seria negá-la. Representar de modo exagerado inclui a utilização de
gestos e expressões vocais convencionais. Se a vida interior do personagem está
ausente, o ator acabará recorrendo a tais clichês. O problema de exagerar é que
o ator pode facilmente convencer-se de que está "vivendo mesmo" o seu
personagem.
Quando um ator prepara seu papel corretamente, ele
transforma-se naquele personagem no palco. Claro que não deve deixar de ser ele
mesmo, mas também é necessário que deixe de ser como é para seus amigos e
família.
Todo o seu êxito na realização plena da sua caracterização
reside na sua confiança, na realidade da sua própria expressão pessoal
individual em oposição aos tipos de expressões clichês. O ator que conta com os
dons naturais e com sua própria individualidade é um artista criativo. Aquele
que não for treinado a usar sua expressão individual e não conseguir utilizar a
si mesmo para ser o personagem que está interpretando, está preso e limitado ao
convencionalismo. A sua voz raramente recorrerá a tons e modulações, ele vai
sacudir os punhos, bater na testa, mover os olhos de forma falsa, apertar os
dentes, fazer caretas, esbravejar, colocar a mão no coração, e recitar sem
emoção.Imitar este estilo convencional de representação que, infelizmente
tornou-se quase uma tradição, é ridículo. É certo que existem atores que
freqüentemente exageram com perfeita habilidade. E estes mesmos são os que
sempre exclamam que os momentos primorosos de pura criação e satisfação
artística no teatro vieram daquelas raras vezes que se sentiram
"inspirados" no papel e pareciam "viver" o personagem.
Seria muito mais gratificante para os seus espíritos
criativos como artistas se eles pudessem treinar seus mecanismos para criar
estes impulsos sempre!
O melhor que um ator pode aprender com uma representação
pouco inspirada é a certeza que, quando ocorrem momentos de verdadeira
inspiração na peça, todos os outros momentos provavelmente foram falsos!
Acredito firmemente que a natureza é uma força insuperável que não pode ser
eternamente reprimida, mas, em vez disto, irromperá esporadicamente dando
rédeas soltas à verdade, apesar de nossas vulgaridades. Além disso, é um
indício, em grande parte, de que nossa sociedade não segue automaticamente as
leis naturais, mas, ao contrário, tentamos e quase sempre conseguimos
reprimi-las ou mudá-las. O ator que desejar atingir um talento artístico
verdadeiro na sua profissão deve literalmente lutar pela verdade de suas
convicções por toda sua vida, tanto no palco quanto fora dele. Ele não deve
desistir até conseguir trazer ao palco o que todo ser humano produz
naturalmente na vida.
Ilustrar um tema
Dá-se um tema: prisão, por exemplo. Cada ator avança e sem
que outros quatro o vejam faz com o corpo a ilustração desse tema. Depois, cada
um dos quatros vem, cada um da sua vez, e faz a sua própria ilustração, diante
dos companheiros que observam.
Por exemplo: o primeiro pode ilustrar o tema
"prisão" ficando deitado, lendo; outro, olhando por uma janela
imaginária; um terceiro jogando cartas; um quarto cozinhando; um quinto olhando
com raiva para fora. Outro tema: Igreja. Pode um fazer-se de Pastor, outro de
obreiro, outro de noivo, outro de turista, etc.
Sugestões Teatro Evangélico
Imitar ou não imitar?
O problema seguinte é o da imitação e a ênfase de certos
hábitos que, por gerações, foram a ruína de talentos criativos.
A imitação pode ser dividida aproximadamente em três grupos:
imitar um indivíduo que é um produto da imaginação do ator; imitar uma pessoa
real que o ator decide ser o tipo de personagem que o seu papel exige; imitar
as características e maneirismos pessoais de outro ator.
A imitação é uma antítese da originalidade e da
criatividade. Não pode haver imitação no palco e ao mesmo tempo presença da
vida, da verdade, da realidade.
Normalmente, um ator começa sua carreira imitando uma semelhança
de um personagem ao invés de tentar viver como uma pessoa real no palco. Isto
acontece em virtude de uma falta de compreensão, conhecimento e treinamento da
sua parte. O ator que depois se dedica a imitar seu comportamento de forma
contrária à sua expressão própria obtém os piores resultados. No entanto, se
ele esboçar estas mesmas imagens e passar a adaptá-las ao que é real na sua
própria mente e meio, seu personagem será muito mais vivo e expressará a
realidade no palco. Isto trará também originalidade e espírito criativo.
Talvez agora o leitor queira saber porque o ator não pode
copiar uma pessoa da vida real e depois personificá-la no palco; por exemplo,
alguém que ele conhece há anos e que ele decide ser exatamente o tipo de
personagem que o texto pede. A resposta é sim, se ele não tentar primeiro obter
o resultado final. O resultado final neste caso seria uma imitação direta de
uma pessoa que ele conhece na vida real. Primeiro, ele deve dar-se conta de que
ele nunca poderá ser realmente aquela pessoa, mas em vez disto, poderá criar as
mesmas qualidades da pessoa que se aplicarão diretamente à sua caracterização.
Para fazer isto, o ator tem que usar seu próprio corpo e suas próprias emoções
para expressar o personagem, desse modo tornando-o real.
O que acontece quando nós tentamos obter primeiro o
resultado final, isto é, uma imitação direta da pessoa real que conhecemos sem
criar motivações para o seu comportamento? Não é difícil imaginar os
resultados, pois nós os vemos freqüentemente. O personagem será uma caricatura
mal desenhada, ao contrário de uma bela peça de arte que poderia ser criada.
Sua fala será mimética ao invés de natural, seu modo de andar e movimentos, em
geral, serão exagerados.
Em uma caracterização biográfica de uma pessoa real cujos
maneirismos pessoais todo mundo conhece, muito pode depender da maquiagem. Ele
deve deixar que o personagem flua através de suas emoções e movimentos, sem
tentar obrigar, seus mecanismos a reagir a uma imagem ou um elemento estranho
imposto por um clichê.
O terceiro tipo de imitação que veio até nós através da
história do teatro dramático é a cópia ou imitação de outro ator. Este fenômeno
singular quer conscientemente ou inconscientemente, deve ser considerada uma
negação total do objetivo do ator na vida. Será que o seu objetivo não vai além
de apenas "ganhar na vida?" A arte, a criatividade e a expressão
pessoal não entram em questão?
Através de uma associação constante no palco com uma
personalidade forte e atraente é possível que algumas qualidades típicas de um
ator sejam vistas em outro. Algumas das qualidades podem ser boas, outras
ruins. No entanto, o perigo está na semelhança que é freqüentemente visível
para o público. Alguns atores adotam inconscientemente o estilo de outro, por
causa de uma profunda admiração e desejo de ser como ele. Outros copiam de
propósito por razões mais mundanas, como por exemplo, a publicidade e outras
trivialidades. Muitas atrizes, na década passada, vestiam-se, posavam e
comportavam-se como Marilyn Monroe para promover suas carreiras
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